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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Vilhena, RO – Ponte Tenente Marques

Vilhena, RO – Ponte Tenente Marques

Para os garimpeiros que tentam ludibriar os índios (leia-se também empresas e mafiosos atuando por trás), fugindo ou escondendo minérios por resistência à comissão, que varia entre dez e trinta por cento, o perigo é o mesmo. Muitos foram torturados e assassinados sem que se tenha mais notícia. Para os mais audaciosos, que tentam entrar pela mata para garimpar sem prévio “acordo” com os índios, o destino é o cemitério clandestino, em geral, em local de dificílimo acesso e desconhecido de quem não pertence à tribo. (Wilson de Carvalho)

Hiram Reis e Silva (*), Porto Alegre, RS, 27 de novembro de 2014.

Fui recebido no aeroporto de Vilhena, no dia 18.10.2014, sábado, pelo Dr. Marc André Meyers e pelo Sr. Luíz Quijada, esposo da Srª. Maria Ângela Elias, que nos conduziu em sua camionete até o Hotel Colorado onde já estavam hospedados os demais membros da Expedição.

A Srª Ângela tinha sido indicada pelo meu caro amigo e irmão de coração Coronel de Engenharia Carlos Alfredo Maiolino de Mendonça. O então 1° Tenente Maiolino conheceu-a, nos idos de 1978 a 1980, quando servia no 5° BEC e comandava a Residência Especial de Vilhena responsável pela construção de um trecho de 300km da BR-364 entre Pimenta Bueno e Barracão Queimado.

Conheci, no Hotel Colorado o Jeffrey Lehmann, apresentador de TV e produtor do programa “Weekend Explorer”. O Jeffrey e o Coronel Inf R/1 Ivan Carlos Gindri Angonese seriam os responsáveis por conduzir a canoa desmontável que o Dr. Marc trouxera dos EUA e transportar nela grande parte da bagagem de rancho enquanto eu e o Dr. Marc pilotaríamos os caíques oceânicos (Cabo Horn) da Opium Fiberglass que ostentavam as cores da bandeira brasileira.

20.10.2014 – Entrevista na SEMTIC

O Dr. Marc já havia agendado com a Srtª Rita Marta Correia, Chefe do cerimonial da Prefeitura de Vilhena, uma entrevista à imprensa que repercutiu favoravelmente nossa empreitada.

CEM ANOS DEPOIS, EXPEDIÇÃO IRÁ REFAZER O TRAJETO DE RONDON E ROOSEVELT (20.10.2014)

Um grupo de quatro pessoas pretende refazer pelo Rio Roosevelt o trecho percorrido em 1914 pelo Marechal Cândido Rondon e pelo então ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, viajaram de canoa cerca de 700 km pelas águas. Na época, o rio que hoje leva o nome do líder americano ainda era desconhecido. (folhadosulonline.com.br)

PESQUISADORES REALIZARÃO EXPEDIÇÃO EM HOMENAGEM AOS 100 ANOS DA EXPEDIÇÃO ROOSEVELT – RONDON (20.10.2014)

Logo após a expedição, será produzido um documentário contando as experiências vividas pelos ousados pesquisadores. A coletiva de imprensa aconteceu na manhã desta segunda-feira, 20, na Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio (SEMTIC), localizado no Centro da cidade de Vilhena. (Jesica Labajos)

CENTENÁRIO: AVENTUREIROS VÃO REFAZER EXPEDIÇÃO RONDON-ROOSEVELT (20.10.2014)

O percurso será feito em 21 dias, 38 há menos que Roosevelt. Durante 21 dias, os aventureiros brasileiros Marc André Meyers, Hiram Reis e Silva, Ivan Carlos Gingri Angonese e o norte-americano Jeffrey Lehmann vão percorrer de caiaque o Rio Roosevelt que tem sua nascente em Rondônia até o ponto onde deságua no Rio Aripuanã, no Amazonas. (Vilhetaço)

EXPEDIÇÃO AO RIO ROOSEVELT PARTE NESTA TERÇA-FEIRA (21.10.2014)

Teve início nesta terça-feira a expedição do grupo de cientistas e pesquisadores americanos e brasileiros que irá percorrer os mais de 700 quilômetros do Rio Roosevelt, tendo como ponto de partida a Fazenda Baliza, localizada entre os municípios de Pimenta Bueno e Cacoal. (SEMCOM – rondoniadigital.com)

COM APOIO DA PREFEITURA, EXPEDIÇÃO AO RIO ROOSEVELT PARTE NESTA TERÇA-FEIRA (21.10.2014)

Teve início nesta terça-feira a expedição do grupo de cientistas e pesquisadores americanos e brasileiros que irá percorrer os mais de 700 quilômetros do Rio Roosevelt, tendo como ponto de partida a Fazenda Baliza, localizada entre os municípios de Pimenta Bueno e Cacoal. (SEMCOM – rondoniaempauta.com.br)

PESQUISADORES VÃO PERCORRER ROTEIRO DA EXPEDIÇÃO ROOSEVELT-RONDON (21.10.2014)

Quatro pesquisadores vão realizar, a partir desta terça-feira, 21, uma expedição em homenagem aos 100 anos da Expedição Científica Roosevelt-Rondon realizada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, comandada pelo Marechal Cândido Rondon, em 1914. (www.onortao.com.br)

PESQUISADORES VÃO PERCORRER ROTEIRO DA EXPEDIÇÃO ROOSEVELT-RONDON (21.10.2014)

Quatro pesquisadores vão realizar, a partir desta terça-feira, 21, uma Expedição em homenagem aos 100 anos da Expedição Científica Roosevelt-Rondon realizada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt e comandada pelo Marechal Cândido Rondon, em 1914. (www.rondoniagora.com)

PESQUISADORES REFAZEM TRAJETO FEITO POR ROOSEVELT E RONDON HÁ 100 ANOS (25.10.2014)

Expedição iniciou na terça, 21, na nascente do Roosevelt, em Vilhena, RO. Objetivo é ver o que mudou na região amazônica em dez décadas. (Jonatas Boni e Lauane Sena – g1.globo.com)

PESQUISADORES REFAZEM TRAJETO FEITO POR ROOSEVELT E RONDON HÁ 100 ANOS (25.10.2014)

Em homenagem aos 100 anos da Expedição Científica Roosevelt – Rondon, quatro pesquisadores estão realizando o mesmo percurso aquático onde no ano de 1914 passaram o ex-presidente americano Theodore Roosevelt e o militar Marechal Cândido Rondon. Os dois percorreram a Amazônia na época para poder desbravar terras, lançar linhas telegráficas e mapear a região. (rondoniamanchete.com.br – Fonte G1)

Fomos recebidos pelo Secretário Estadual do Turismo, Indústria e Comércio (SEMTIC), Dari Alves de Oliveira, que nos apresentou o projeto do “Parque Recreativo Municipal” antes denominado “Parque Rondon”. O projeto prevê uma pista de caminhada, “play ground”, academia de ginástica, área verde para lazer, banheiros, lanchonetes, etc. O Parque será dotado de um lago de aproximadamente 4.000m² abastecido por poço artesiano. Após a entrevista com a mídia local fomos visitar o antigo Posto Telegráfico Álvaro Vilhena que é agora conhecido como a Casa de Rondon. A área está tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e é patrimônio do Ministério da Defesa.

Álvaro Coutinho de Melo Vilhena: os Campos Gerais ou Chapadão dos Parecis passaram a ser conhecidos como Vilhena, a partir de 1910, após a Comissão chefiada pelo então Tenente-Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon, ter construído na região um Posto Telegráfico, que fazia parte da linha Cuiabá-Santo Antônio do Alto Madeira. A linha que ligaria Cuiabá a Porto Velho permitiria a construção de milhares de quilômetros de cabos telegráficos, fazendo surgir Vilas em torno dos Postos. Rondon batizou a estação telegráfica, com o nome de Álvaro Vilhena em homenagem ao engenheiro maranhense Álvaro Coutinho de Melo Vilhena, que nos idos de 1890, fora designado Engenheiro Chefe da Organização da Carta Telegráfica da República e, em 1900, Diretor Geral dos Telégrafos. A estação telegráfica foi transferida em 12.10.1910, para novas instalações, na casa atualmente conhecida por “Casa de Rondon”. (Hiram Reis)

21.10.2014 – Rumo à Fazenda Baliza (Acampamento 01 – AC01)

Partimos depois das 08h00 para a Fazenda Baliza e meia hora depois de partirmos a camionete locada pelo Dr. Marc começou a apresentar problemas mecânicos. O reboque carregado com a canoa, os dois caiaques e toda a bagagem foi atrelado, então, à camionete de Guilherme e Dariano que felizmente acompanhavam-nos e sem o apoio dos quais teríamos, fatalmente, de adiar nossa partida. Paramos em um posto de combustível e o 3° Sgt BM Douglas Matias da Silva Ferreira sanou o problema da camionete do Naif. O Dr. Marc fez questão de passar pela casa do Sr. Grilo embora este pouco tenha acrescentado ao que já sabíamos. O Grilo afirmou, porém, que existiam à montante do local onde acamparíamos vestígios de uma Ponte de madeira que poderia ser a construída, em 1909, pela Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas comandada por Rondon.

Descarregamos as embarcações e a carga e, enquanto meus parceiros montavam o Acampamento 01 (AC01 – 12°01’41,47”S / 60°22’40,51”O), naveguei Rio acima na tentativa de achar a tal ponte e, depois de remar 06km até a Latitude de 12°04’, não avistei qualquer sinal da Ponte de Rondon. A largura do Rio, naquela Latitude variava de 08 a 10m, os barrancos eram baixos e não eram compatíveis com a construção de uma ponte de 20m de extensão.

Considerando que cada minuto da Latitude corresponde aproximadamente a 1.800m tenho certeza de que a Comissão chefiada por Rondon não cometeria um erro de tal magnitude. A Comissão estabelecera para sua partida a Latitude Sul de 12°01’, portanto à jusante do AC01 e eu reconhecera o curso d’água até três minutos acima, aproximadamente, 5.400m na direção geral Norte.

Historicamente os erros de locação jamais chegaram à casa dos minutos. A título de exemplo cito a Latitude encontrada pela Expedição original para a Confluência do Rio Roosevelt com o Rio Capitão Cardoso que foi de 10°59’00,3”S e que nós estabelecemos como sendo 10°59’20,8”S, um erro de pouco mais de 20” perfeitamente aceitável para os rudimentares equipamentos de que dispunha a Comissão.

Na minha solitária investigação avistei inúmeras árvores caídas que agora na estiagem obstaculizavam a progressão exigindo do argonauta muita atenção e habilidade. A Expedição original descera na cheia o que facilitou sobremaneira a passagem pela parte mais estreita do Rio, como relatou Rondon:

Era tão grande a enchente, que a correnteza molhava a parte inferior do tabuleiro da ponte aí existente. Isso tinha a vantagem de imergir os obstáculos, inclusive árvores caídas. Na estiagem estariam, certamente, à tona. (VIVEIROS)

22.10.2014 – Fazenda Baliza (AC01) – AC02

Partimos da Fazenda Baliza-AC01 depois das 08h00, muitas árvores caídas, dificultavam a navegação e tive de socorrer o Dr. Marc que, apesar de sofrer dois naufrágios, manteve, em cada oportunidade, uma notável tranquilidade para um neófito canoeiro. O Coronel Angonese e o Jeffrey (a quem chamaremos, doravante, de camaradas) enfrentaram com galhardia as barreiras formadas pelos troncos manejando com certa dificuldade a frágil e carregada canoa. As buritiranas (Mauritiella aculeata) que Roosevelt observara na sua saga há cem anos ali estavam representadas por suas descendentes com seus troncos, cobertos de espinhos, graciosamente curvados sobre as águas e que ele erroneamente chamara de “boritana”.

O debrum (a orla) de árvores curvadas ou caídas era constituído das espinhosas palmeiras “boritana”, de hastes delgadas e que gostam da água, muitas vezes ainda viçosas e em pleno vigor, embora mergulhadas no Rio com estípites encurvados para cima e as frondes agitadas pela rápida correnteza. (ROOSEVELT)

A navegabilidade melhorou sensivelmente depois da confluência com o Rio Festa da Bandeira, as águas estavam mais serenas e a largura do Rio não permitia que as árvores tombadas bloqueassem-no em toda amplitude. A progressão tornou-se mais fácil, mas não mais veloz já que a vazão permanecia praticamente a mesma. O acréscimo do fluxo das águas do afluente era neutralizado pela maior largura do Rio. Diferente da Expedição original observamos, desde a partida, urubus planando sobre o verde dossel que nos circundava. Cherrie avistou-os somente no dia 28.03.1914, o 30° dia deles no Rio da Dúvida nas proximidades da Foz do Rio Cherrie:

Avistei dois ou três urubus voando alto sobre floresta. Como eles não são aves de ambiente florestal acho que podemos estar nos aproximando de uma região mais aberta, possivelmente um Chapadão. Atualmente estamos cortando nosso caminho através de uma Cadeia de montanhas. (CHERRIE)

A mudança geográfica destes catartídeos ocorreu, logicamente, em função das áreas desmatadas a cavaleiro do Rio Roosevelt destinadas à criação de gado ou ao desmatamento desenfreado que grassa na Terra Indígena (TI) dos Cinta-larga.

A partir da Latitude Sul 11°55’20” encontramos alguns “furos”, “arrombados” e “sacados”. Aportamos em uma praia nas proximidades de um arrombado para analisá-lo onde colhi excrementos de capivara para serem lançados ao fogo com o intuito de espantar mosquitos. Comprovei, à noite, que, diferente dos dejetos bovinos, as fezes de capivara não repeliam absolutamente os insetos.

Furos: são canais que unem trechos sinuosos do mesmo Rio encurtando distâncias. (Hiram Reis)

Arrombados: são uma evolução dos furos que com o passar dos anos acabam se transformando no novo leito do Rio. (Hiram Reis)

Sacados: são lagos, geralmente em forma de ferradura, formados depois do “furo” se transformar em “arrombado” e consequente assoreamento das bocas de montante e jusante do antigo leito do Rio. (Hiram Reis)

Avistamos, à tarde, depois de haver percorrido 24,5km, uma praia de areias muito alvas (AC02 – 11°54’44,45”S / 60°22’27,95”O), à margem esquerda, onde resolvemos montar acampamento. As diversas pegadas e dejetos revelavam que o local era frequentado por um bando de capivaras. Enquanto o Coronel Angonese providenciava o fogo e o Dr. Marc e Jeffrey buscavam lenha fui cortar uns esteios para fixar a lona sobre o fogo. O Coronel Angonese conseguiu convencer nossos parceiros que o item mais importante em um acampamento era o fogo e que era preciso providenciar, de imediato, uma proteção para ele em caso de chuva. Além dos esteios encontrei, por acaso, uma quantidade considerável de uma espécie muito valorizada na Amazônia chamada Breu-branco (Protium heptaphyllum) e de uma delas colhi abundante resina que seria usada pelo Coronel Angonese, durante toda a nossa jornada como mais um elemento inicializador do fogo. Imediatamente veio-me à mente uma passagem do livro “Voyage au Cuminá” da Madame Marie Octavie Coudreau:

Vou com Guilhermo e dois marinheiros procurar breu e tivemos a sorte de encontrar imediatamente muito mais do que precisávamos. As árvores da cera (breu) vivem aqui em família, conto 10 pés no meu entorno e Guilhermo me disse que se fôssemos mais para dentro da mata iríamos encontrar mais. Enchi dois baldes, o suficiente para calafetar nossa brava canoa. A “Joaninha” fica perfumada com o cheiro doce e agradável desta cera vegetal. (COUDREAU)

Breu-branco (Protium heptaphyllum): o breu-branco produz uma resina depois de ser estimulado pela larva de um inseto da família Curculionidae, que deposita suas larvas sob a casca da árvore e ali permanecem até a idade adulta. No início a resina tem cor branca e brilhante e com o passar do tempo solidifica-se, assumindo uma cor esbranquiçada e cinzenta, ou cinza-esverdeada, quebradiça e inflamável. A resina é coletada manualmente e sua cor, consistência e aroma variam muito de acordo com a espécie. A resina é utilizada na medicina e na fabricação de cosméticos e perfumes:

Calafetagem: faz-se pequenos cortes (sangria) na casca da árvore de onde brota um líquido que depois de seco se transforma numa massa flexível de cor branco-amarelada. Essa massa é empregada na calafetagem de embarcações depois de aquecida e misturada com azeite ou sebo.

Cosméticos: é empregada na fabricação de produtos de higiene, cosméticos e perfumes.

Essência: das folhas desta são empregadas na fabricação de pós aromáticos e saches.

Insetífugo: a resina é usada como repelente de insetos.

Medicinal: estudos recentes com o óleo da resina comprovaram sua eficácia terapêutica, demonstrando atividades anti-inflamatória, anticonceptiva e antineoplásica.

Antineoplásica: medicamentos utilizado para destruir células malignas evitando ou inibindo o crescimento e a disseminação de tumores.

A resina possui potente atividade analgésica. A casca é utilizada no tratamento de úlceras gangrenosas e em banhos para acalmar a dor de cabeça. Do caule prepara-se um xarope para o tratamento de tosses, bronquites e coqueluches. As folhas são, também, empregadas contra as úlceras gangrenosas e inflamações em geral.

23.10.2014 – AC02 – AC03 (Montante do Salto Navaité)

A alvorada, novamente, foi pelas 05h00 e, enquanto o Dr. Marc encarregava-se de avivar o fogo para o café da manhã, os outros membros da Expedição desmontavam o acampamento e carregavam as embarcações. Nas minhas amazônicas jornadas, eu seguia uma rígida e espartana rotina, deixando para trás as comodidades da civilização e partindo sempre antes do alvorecer e em jejum. Tive, porém, muito a contragosto, de me adaptar à ritualística rotina americana de tomar desjejum, conversar preguiçosamente em volta do fogo e partir somente por volta das 08h00. Minha conduta prussiana sucumbia à maneira americana. Este conforto cobrava, porém, um alto tributo aos expedicionários que forçosamente teriam de enfrentar o causticante Sol da tarde, os ventos que aumentam de intensidade com o passar das horas e as chuvas que predominantemente surgem no período da tarde. O resultado desse imbróglio todo é que nossa média horária não ultrapassava os risíveis 05km/h.

O dia transcorria sem maiores alterações até que avistamos, depois de navegar uns 06km, o tabuleiro de uma rústica ponte de madeira (11°52’59,3”S / 60°22’50,3”O) que atravessava o Rio, de margem a margem, em direção à TI dos Cinta-larga. No acampamento encontramos apenas a cozinheira, a gaúcha Dona Fátima, moradora de Espigão do Oeste, e natural de Tenente Portela, RS, que deu de presente ao Coronel Angonese latas de sardinha e minhocas.

À medida que avançávamos, o curso do Rio alternava-se de trechos extremamente sinuosos para amplos estirões e curvas mais alongadas aqui e acolá e, no final da jornada, alguns rápidos que transpúnhamos sem maiores problemas.

À tarde, depois de uma série de rápidos, que aumentaram sensivelmente a velocidade de deslocamento, começamos a ouvir o som tonitruante do Salto Navaité. Tínhamos percorrido 37km, resolvi picar a voga, deixando o Dr. Marc para trás, e ultrapassei a canoa pilotada pelos nossos camaradas antes que eles se aproximassem demais da perigosa série de corredeiras, cachoeiras e saltos. Passei por eles, pedi que aportassem e aguardassem. Desembarquei logo à frente e fui verificar se era ou não aconselhável continuar a navegação.

Voltei e informei aos camaradas e ao Dr. Marc que precisávamos desembarcar e reconhecer até aonde teríamos de transportar, por terra, as embarcações e a carga. Verificamos que teríamos transportar todo o material por mais de 800m e o Coronel Angonese foi tentar conseguir algum tipo de apoio na vizinhança realizando uma extenuante marcha enquanto retirávamos as embarcações d’água e montávamos o acampamento (AC03 - 11°47’05,45”S / 60°27’31,29”O) na margem direita à montante do Salto Navaité. Ao retornar, bastante cansado, o Coronel Angonese relatou-nos que a única fazenda na redondeza estava localizada na margem oposta, decidimos, então, realizar o transporte na manhã seguinte e acampar à jusante do Salto Navaité.

24.10.2014 – AC03 – AC04 (Jusante do Salto Navaité)

Iniciamos logo cedo o extenuante transporte de todo o material para o acampamento à jusante do Salto Navaité. Existia uma trilha relativamente recente que facilitou o transporte das embarcações, utilizando um carrinho que o Dr. Marc trouxera dos EUA para esta finalidade. Como o trajeto era muito longo, resolvi realizar o transporte em três etapas, assim recuperava o fôlego após cada carregamento retornando sem carga até a etapa anterior até chegar, por fim, ao local do acampamento.

Levamos a manhã inteira para transpor o acampamento de montante para jusante. Depois do almoço, passamos a tarde reconhecendo e fotografando o complexo de Navaité. O maior estreito ou angustura como diriam os antigos de todo o Rio Roosevelt. O Rio cuja largura, à montante, variava de 20 a 30m passava agora por uma estreita fenda de menos de 02m de largura e como sua vazão permanece praticamente idêntica à de montante isso indica que sua seção transversal é provavelmente a mesma, isso quer dizer que a profundidade neste local é muito grande, em torno de 15 a 20 metros.

Observando os grandes lajedos de arenito e conglomerados friáveis eu identificava alguns deles onde Rondon, Roosevelt e Cherrie tinham sido fotografados. A beleza agreste daquelas formações, o medonho fragor do caudal confinado, de repente, em uma angustura tão incomum e as águas tumultuárias e refulgentes emocionavam-me. Engarupado na anca da história eu via ou sentia a presença daqueles personagens que a cem anos atrás palmilharam aqueles sítios gravando indelevelmente sua passagem em cada um deles.

25.10.2014 – AC04 (Jusante do Salto Navaité) – Ponte Tenente Marques

Parti alguns minutos antes dos demais com o intuito de visitar a fazenda que aparecia nitidamente à margem esquerda do Rio. Seu gerente era um mineiro sisudo que morava sozinho naqueles ermos dos sem fim.

O Rio apresentava agora um traçado bastante suave, pleno de estirões e enormes curvas. Estávamos próximos à ponte que dá acesso à Aldeia Tenente Marques comandada pelo João “Brabo” quando aproximou-se numa voadeira o Sgt Douglas e um nativo. Cumprimentamos efusivamente o amigo, mas estranhamos o fato dele estar tão próximo à primeira ponte (km 100) e não na ponte do Km 124. O Douglas lá estava quando foi informado que o João “Brabo” ia impedir-nos de prosseguir a partir da 1° ponte. Mais adiante passou velozmente uma lancha com meia dúzia de índios armados e carrancudos, tive um mau pressentimento.

João Brabo: alguns repórteres resolveram chamá-lo de “Bravo” mesmo que na porteira de acesso à sua aldeia esteja escrito em letras garrafais ‒ João Brabo. Ora o dicionário Michaelis diz que Bravo: é quem não teme o perigo; denodado, intrépido, valente e Brabo: nocivo, prejudicial, irado, brigador. Ora não consta que esse malfadado João tenha se destacado por qualquer ato de bravura na sua famigerada existência, portanto á Brabo mesmo. (Hiram Reis)

Aportamos na margem esquerda, à montante da ponte (11°38’32,52”S / 60°27’13,79”O), fora da Terra Indígena onde fomos informados pelo Sgt BM Douglas e o Cabo BM Hiuri Marcel de Sousa Lopes que não poderíamos continuar a partir daquele ponto. Logo depois do Sgt BM Douglas ter explicado a situação comecei a descarregar o caiaque colocando as tralhas no reboque da camionete dos bombeiros enquanto meus parceiros ainda imaginnavam que poderiam convencer o tal João “Brabo” de nos deixar passar. Eu conhecia os antecedentes do fanfarrão e sabia que ele não voltaria atrás.

De repente surge o tal João vestindo apenas um calção e um cocar, na Ponte, seguido de dois de seus asseclas e diversos adolescentes e crianças, entoando suas canções tribais. O Sgt BM Douglas nos informara que quando adentrou na Aldeia dos Cinta-larga o João e demais lideranças estavam participando, devidamente paramentados com roupas de grife e tudo mais, de uma reunião.

Tão logo ele se aproximou de nós começou a falar, intercalando em voz alta o português com sua língua nativa dizendo que estávamos invadindo sua Terra. A pantomima durou alguns minutos e o líder tribal parecia estar muito irritado com a nossa presença. Chegou a cogitar de que poderia nos manter como reféns na Aldeia até que lhe fosse assegurada a construção de uma nova ponte sobre o Roosevelt.

Podíamos perceber, nitidamente, que ao usar de palavras mais chulas e ameaças mais violentas ele optava pela língua nativa permitindo que seus seguidores admirassem sua “bravura”. Depois de encerrar sua peça teatral ele foi amainando a linguagem e permitiu que fotografássemos a ele e as crianças Cinta-largas. Terminamos o carregamento, embarcamos na viatura do corpo de bombeiros e nos deslocamos para Vilhena onde teríamos de refazer nosso planejamento descobrindo um novo ponto de partida à jusante do Rio Cardoso já no Estado do Mato Grosso.

Deixávamos para trás, portanto, o trecho mais preocupante de toda a jornada e onde a Expedição original mais penou. Tínhamos percorrido apenas 100km do Rio Roosevelt.



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