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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Chegada em Manaus

Chegada em Manaus

Hiram Reis e Silva, Santarém, Pará, 16 de março de 2013.

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)

Partimos de Iranduba, depois das seis horas, e chegamos ao Furo Paracuúba por volta da nove horas. O Paracuúba serve de atalho às pequenas embarcações que descem o Rio Solimões, com destino a Manaus, permitindo adentrar ao Rio Negro.

Paracuúba (Dimorphandra macrostachya): árvore amazônica de ramos grossos e muitas flores. Também é conhecida pelo nome de ataná.

No Negro paramos em uma pequena praia para fazer a manutenção das embarcações preparando-as para o lance final e depois aproamos para um dos lances intermediários da bela ponte do Rio Negro. Como chegamos muito antes da hora prevista estacionamos em baixo de um dos imensos pilares aguardando o momento adequando para rumar para o porto do Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA). Como as ondas castigavam as embarcações e empurravam-nas perigosamente de encontro aos enormes tubulões de ferro decidi deixá-las à deriva e aguardar o comando do Coronel Lister para realizar a aproximação. A correnteza do Negro praticamente não existia e fomos sendo empurrados lentamente pelos ventos em direção ao nosso destino.

O Coronel Lister comunicou-se conosco pelo telefone celular e acertamos com ele o momento mais apropriado para a aproximação. Depois de os repórteres embarcarem em uma embarcação do Comando Militar da Amazônia (CMA) e uma escolta fluvial vir ao nosso encontro fomos autorizados a realizar a aproximação. Remamos vigorosamente, pela última vez nesta missão. As ondas vinham pela alheta de bombordo e desorientavam a embarcação do Marçal, que não possui leme, prejudicando sua progressão enquanto o Cabo Horn, da Opium Fiberglass, surfava levemente sem tomar conhecimento do banzeiro.

Os repórteres depois de nos acompanharem embarcados até aportarmos nos seguiram até uma confortável instalação do Centro de Embarcações que o Coronel Barros, E/5 do CMA, preparara para as entrevistas. Foi com muita satisfação que ali encontrei meus ex-Cadetes, o General Antônio dos Santos Filho, atual Comandante do 2º Grupamento de Engenharia (2º Gpt) e o Coronel Tavares, que foi Chefe do Estado Maior do 2º Gpt. Lá estavam, também, o Cmt Túlio da PM, representando seus pares que nos deram apoio fundamental em todo percurso no Estado do Amazonas, o meu caro parceiro do CMPA, Tenente-coronel Pestana, hoje Sub-comandante do CECMA e o Paulino um velho amigo da FUNAI que tive o privilégio de conhecer quando comandei a 1ª Cia Eng Cnst, do 6º BEC, sediada no Abonari, BR 174. O grande destaque da recepção em Manaus foi proporcionado pelos meus fiéis amigos pessoais e pelos repórteres. Senti muito a ausência do autor intelectual de minha missão o Coronel Pastor que por problemas de saúde não pode estar presente.

Como a missão se tratava de um reconhecimento de engenharia, executado por um oficial e duas praças da nobre arma de Vilagran, numa expedição que levava o nome do engenheiro militar General Belarmino Mendonça, nada mais justo que a maior autoridade presente na ocasião de nossa chegada fosse um digno camarada oriundo da arma do castelo lendário. Agradeço, sensibilizado, a todos aqueles, militares e repórteres, que abrindo mão de suas merecidas horas de lazer, neste domingo ensolarado às margens do majestoso Rio Negro, participaram de nossa vibração pelo cumprimento de uma missão em que as qualidades que mais cultuamos na vida castrense foram postas à prova e materializadas dia-a-dia, sobejamente, pelos expedicionários. Foram oitenta e três dias de árdua navegação pelos Rios Juruá e Solimões, enfrentando as mais duras provas de resistência, intempéries, desconforto, insalubridade, falta de apoio sem que jamais descurássemos de nosso objetivo, mantivemos sempre, a todo preço, o “foco na missão”.

-  Manaus, AM (10 a 13.03.2013)

Além do apoio prestado, em Manaus, mais uma vez, pelos nossos caros amigos Paulino e Beto Moreno tivemos, desta feita a oportunidade de conhecer um grande parceiro, até então virtual, chamado Walter Rezende. Um contabilista, advogado, compositor e poeta que foi, em 2012, Vice-campeão da Terceira edição do Festival Amazonas de Música. Walter Rezende escreveu, em 2010, um livro de poemas chamado “Poesias Livres, de Versos Brancos e de Pés Quebrados”, que foi adaptado para ser inscrito no festival sob o título “Amor e Silêncio”.

Fui convidado pelo General Santos Filho para fazer um breve relato da Expedição pelo Rio Juruá no auditório do 2º Grupamento. Fiquei emocionado com as gentis palavras que proferiu meu ex-Cadete a meu respeito e senti a arritmia tomar conta do coração e as lágrimas teimarem em brotar dos olhos deste velho canoeiro ao lembrar de como foram bons aqueles momentos passados na Academia Militar das Agulhas Negras em que tive a honra e o privilégio ímpar de participar da formação de nossos jovens oficiais de engenharia.

Obrigado General, é sempre bom ter nosso trabalho reconhecido e saber que as sementes lançadas por aquele instrutor caíram em seara fértil, fecundaram e hoje estendem generosamente seus frutos a este idealista incorrigível que sempre colocou a Pátria e o Exército acima dos interesses pessoais sacrificando com isso, não raras vezes, a saúde e o conforto seu e de seus familiares.

Abracei esta carreira, seguindo os passos de meu venerável e inesquecível pai, como um verdadeiro sacerdócio e, por isso, posso olhar para trás e sentir orgulho de cada ato, de cada atitude tomada sempre em nome da honra e do dever. Nunca almejei os louros da vitória ou o reconhecimento, mas sempre procurei cumprir minhas tarefas da melhor e mais digna maneira possível, por isso, é que ao observar a mesquinhez e a falta de visão de alguns, a omissão ou descomprometimento de outros eu contra-ataco com uma férrea determinação e “prossigo na missão” sem desviar-me, jamais, do objetivo final e isto, certamente, incomoda aos mercenários e fracos de espírito.

-  Partida para Itacoatiara, AM (14.03.2013)

Partimos às 05h40, embarcados na lancha “Mirandinha” rumo à Itacoatiara, AM. Logo que entramos no Rio Amazonas o tempo começou a mudar e enfrentamos chuva, vento e banzeiros a maior parte do tempo. Chegamos por volta das onze horas no porto do amigo José Holanda e ligamos para o empresário Roni, amigo do irmão Beto Moreno, que nos disponibilizou mais 100 litros de combustível, o suficiente para chegarmos até Santarém, PA.

-  Partida para Santarém, PA (15.03.2013)

Partimos antes do alvorecer enfrentando as mesmas condições climáticas adversas do dia anterior. Para neutralizar os efeitos da chuva fria que resfriava nossos corpos, volta e meia, eu enchia um balde com água do Rio Amazonas e molhava o corpo para aquecê-lo. Ao passarmos por Parintins, AM pelas onze horas telefonei para o Coronel Codelo, Comandante do 8º BECnst, avisando que decidíramos tocar direto para Santarém sem pernoitar em Parintins. Ao penetrar as águas verdes e cálidas do Tapajós avistamos ao longe a “Pérola do Tapajós”.

Ao aportarmos em Santarém, novamente, a fidalguia dos meus caros irmãos de armas se fez presente em cada momento de nossa breve passagem pela bela cidade de Santarém.


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