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sábado, 21 de janeiro de 2012

A Amazônia para os Negros Americanos

A Amazônia para os Negros Americanos


Temos um destino a cumprir, um “Destino Manifesto” sobre todo o México, sobre a América do Sul, sobre as Índias Ocidentais e Canadá.
 (J.D.B. De Bow - De Bow’s Review)

Ao ler, recentemente, “A Amazônia para os Negros Americanos”, da historiadora paulista Nicia Vilela Luz, observamos que as articulações, os conchavos, os artifícios e pressões diplomáticas de toda ordem e o processo de “convencimento” de políticos e empresários brasileiros através de propinas ou oferta de cargos, regiamente remunerados em empresas multinacionais, em troca do controle das companhias estatais e privadas nacionais por estrangeiros não se alterou através dos tempos.



Como não se alterou a determinação das grandes potências de dominar os demais países seja, a curto prazo, através da força ou de seu poderio econômico a médio e longo prazo. O Brasil pressionado pelos países hegemônicos interessados em manter seu “status quo” aceitou sediar uma Copa que irá aumentar ainda mais sua Dívida Interna, hoje, em torno dos dois trilhões de reais.

-  Fuga de Divisas

O Governo Federal faz alarde sobre o volume crescente de nossas exportações, mas a própria UNESCO reconhece que elas são em grande parte realizadas por empresas estrangeiras, que adquirem os produtos nacionais a um preço aviltante para desfrutar de consideráveis margens de lucro lá fora.

Nossas exportações de soja crescem vertiginosamente, mas a maior parte deste lucro é rateado entre transnacionais como a Bunge e a Cargyll, respectivamente quarta e sexta maiores exportadoras “brasileiras” do setor.


O Ministério do Desenvolvimento, em 2003, mostrou que as vendas de minério do Brasil totalizaram US$ 7 bilhões e 800 milhões, mas em decorrência da absurda isenção de impostos para exportações o país arrecadou apenas 136,8 milhões de reais.
A PETROBRÁS não é mais do povo brasileiro e quem vem se beneficiando com a sua “auto-suficiência” e exportações são os estrangeiros. Hoje quase 70% do capital social da Petrobrás é privado e na divisão dos lucros de todo petróleo extraído e beneficiado pela Petrobrás a maior parte vai parar nas mãos do capital privado, sendo que mais da metade de sua composição é de capital estrangeiro.
-  Matthew F. Maury

Maury nasceu, em 14 de janeiro de 1806, em Fredericksburg, Virginia, USA. Descendente de Huguenotes franceses, por parte de pai, e de Ingleses e Holandeses por parte de mãe, Maury trazia no DNA uma mistura de visionário, cientista e homem de negócios. Incapacitado para o serviço ativo, em virtude de um acidente, foi designado para o “Depósito de Cartas e Instrumentos do Departamento da Marinha em Washington” que, depois de algum tempo, transformou no “Naval Observatory and Hydrographic Office”. Seus estudos a respeito das Cartas dos Ventos das Correntes Marítimas alteraram as rotas dos navios à vela, encurtando os percursos e diminuindo o tempo de viagem, contribuindo, significativamente, para a evolução da marinha mercante americana.

Matthew F. Maury

 
-  Matthew e a Amazônia

O mundo amazônico é o paraíso das matérias primas, aguardando a chegada de raças fortes e decididas para ser conquistado científica e economicamente.(Matthew F. Maury - The Amazon and the Atlantic Slopes of South America, 1853)

Matthew procurou despertar a atenção de seus compatriotas, principalmente os sulistas, para a colonização da Amazônia. Comparava os vales da Bacia do Mississipi com a do Amazonas afirmando que esta última, além de ser duas vezes maior, o trabalho de um único dia por semana era o suficiente para abastecer a mesa do agricultor com abundância. Matthew afirmava que:

Se o comércio estendesse uma única vez suas asas sobre este vale, sua sombra seria como o toque de mãos de um mágico: estes imensos recursos logo se transformariam em vida e atividade.

E continuava dizendo que sob a ação milagrosa do progresso e do comércio a região:

seria levada a “desabrochar como uma rosa” – Temos, portanto, apenas de dar livre curso às máquinas do comércio – o vapor, o emigrante, a imprensa, o machado e o arado – e ela regurgitará de vida. (...) Agora começamos a ver que poderosa máquina é a atmosfera e mesmo que, aparentemente, seja tão caprichosa (...) em seus movimentos, há aí evidência de ordem e arranjo que devemos reconhecer e prova que não podemos negar, pois ela provê com regularidade e certeza esta poderosa precipitação e, é, portanto, tão obediente à lei como é máquina a vapor à vontade do seu construtor. (...)

Está inteiramente dentro do trópico. Seu clima quente e úmido dá origem a um desenvolvimento de forças vegetais, energias produtivas e possibilidades agrícolas as mais ilimitadas e maravilhosas.

As variações de clima negadas a essa região pela latitude, são possíveis graças às cadeias de montanhas e às altitudes, de tal forma que, dentro da extensão das encostas drenadas pelo Amazonas, pode-se encontrar toda variedade de clima com seus produtos peculiares, desde as regiões de neve eterna às de verão perene.

Matthews e seus compatriotas, advogando o princípio do determinismo geográfico, consideravam a Amazônia como um tributário do Mediterrâneo Americano, formado pelo Golfo do México e Caribe. Segundo eles, a Bacia Amazônia fazia parte do Sistema Americano de bacias hidrográficas formado pelo Mississipi e Orenoco. Baseavam esta tese levando em conta a proximidade, relativa, entre a Foz do Amazonas e do Estreito da Flórida além de considerar que os sedimentos, carreados pelo Amazonas, graças às correntes marítimas, passavam pela foz do Mississipi e chegavam até o “Gulf-Stream”.

Além do aspecto comercial, Matthews se preocupava com a problemática que seria criada após a abolição da escravidão nos USA, cuja raça poderia vir a se multiplicar de tal maneira que, no futuro, comprometeria a hegemonia da raça branca. Os sulistas precisavam, de qualquer maneira, livrarem-se do excesso de negros e uma maneira seria enviá-los para a Amazônia Brasileira a exemplo do que já havia sido feito pela “Sociedade Americana de Colonização”.

Sociedade Americana de Colonização: fundada em 1816, com a finalidade de enviar escravos alforriados de volta à África. A primeira leva chegou à Libéria, em 1822.

Matthews como todos os naturalistas e pesquisadores estrangeiros que aqui estiveram, desdenhava, da capacidade dos nossos nativos, aos quais chamava de “povo imbecil e indolente” e concordava, erroneamente, com eles ao considerar como extremamente férteis as terras do Grande Vale do Amazonas. Convencido da superioridade da raça branca ele pretendia que a região fosse povoada pelos negros americanos, logicamente sob o jugo dos brancos, o que mais tarde poderia servir de justificativa para legitimar a posse americana da Região.

Este vale (amazônico) é uma região para o escravo. O europeu e o índio estiveram lutando com suas florestas por 300 anos, e não lhe imprimiram a menor marca. Se algum dia a sua vegetação tiver de ser subjugada e aproveitada; se algum dia o solo tiver de ser retomado à floresta, aos répteis e aos animais selvagens e submetido ao arado e à enxada, deverá ser feito pelo africano. É a terra dos papagaios e macacos e só o africano está à altura da tarefa que o homem aí tem de realizar.

-  Missão Herndom-Gibbon

Era preciso revolucionar e anglo-saxonizar o vale constituindo ali uma República Amazônica. (Carta de Maury ao cunhado Herndon)

Maury acreditava, piamente, que Deus mantivera a Amazônia deserta para que os problemas do Sul dos USA pudessem ser resolvidos. O visionário não se contentou em formular teorias e incitar seus compatriotas e colocou em marcha um plano, que tinha como objetivo final, de salvar o instituto da escravidão transportando para a Amazônia os sulistas com seus escravos.

Maury indicou para realizar uma missão exploratória, à Bacia Amazônica, o seu cunhado Tenente da Marinha William Lewis Herndon acompanhado de Lardner Gibbon que partiram de Valparaiso para Lima em fevereiro de 1851. A partir de Lima a expedição se dividiu em dois grupos, Herndon deveria descer o Amazonas depois de alcançar o Marañon e Gibbon desceria o Rio Madeira a partir da Bolívia.

O relatório de Herndon, como não poderia deixar de ser, era uma reafirmação do ideário de Maury, que, aproveitando as informações colhidas pelo cunhado, elaborou uma série de artigos em que qualificava de “japonesa” a política brasileira a respeito da navegação na Bacia do Amazonas apelando para as ambições expansionistas de seus compatriotas. A águia iniciava uma campanha sistemática para estender suas garras e submeter, aos pouco, região aos interesses mercantis yankee. A primeira fase do Plano de Maury entrava em ação.

-  Reflexos da Campanha Sistemática de Maury

Em 1850, as Guerras de fronteiras entre Brasil, Uruguai e Argentina, e pelo direito de navegar nas águas da Bacia do Prata, iniciaram quando o governador Juan Rosas, bloqueou os rios da bacia platina ao comércio e à navegação de outros países. As tropas brasileiras venceram Rosas forçando a Argentina a reabrir a bacia para a navegação internacional. Maury atento aos acontecimentos aproveita o momento para excitar as ambições dos empresários americanos exaltando as riquezas da Amazônia.

1853   -  é decretada, no dia 27 de janeiro, a abertura à navegação dos rios bolivianos a todas as nações.

1853   -  é decretada, no dia 15 de abril, a abertura à navegação dos rios peruanos.

1862   -  o General James Watson Webb, ministro plenipotenciário de Washington junto à corte de D. Pedro II, encaminhou solicitação ao Imperador, propondo a vinda e fixação de negros americanos na Amazônia.

1866   -  aproveitando-se das dificuldades do Brasil com a Guerra do Paraguai (que os EUA apoiaram dissimuladamente), o governo norte-americano volta a insistir na proposta de assentamento de populações negras no vale amazônico.

1866   -  em dezembro, o governo brasileiro liberou a navegação internacional do Amazonas. O decreto estabeleceu que a abertura vigoraria a partir de 7 de setembro de 1867, e definiu quais rios estariam abertos à livre navegação, evitando o acesso irrestrito de estrangeiros à região.


Fonte:  LUZ, Nicia Vilela – A Amazônia para os Negros Americanos – Brasil – Rio de Janeiro – Editora Saga, 1968.



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